Thursday, September 13, 2007

Não há mais nada a ser dito. O mundo acabou e você não ficou sabendo.

Tuesday, July 17, 2007

#2

Desceu-me agora do teto do mundo
um senso novo (mínima abertura,
quadro do segundo
em que eu tenso nasci) e ainda dura
a nuvem ocular de estar nascendo,
a nua ocultação das coisas nossas:
eu morto vivendo
escondido entre teus alvos de troça


Catalogando repentes, contados
os dentes e o fado
entre os dedos dormentes
e o braço cansado


Diz-me adeus (dou a Deus teu recado)

Wednesday, April 11, 2007

Cena

Planta, então - deixa-se cair, assim,
Uma a uma, as sementes, sobre a terra
um pouco revolvida, fofa. Sinta
O cheiro dela, que deve ser sutil,
entre o quintal de casa e o que persiste
num cantil (Era café. Doce demais).
A memória te arrasta e a mão
Aberta sobre o caule tenro e moço
persiste, eterna, eterna, eterna, eterna.

Wednesday, January 24, 2007

Take me out tonight



De nada.

Monday, December 18, 2006

Anotações - N° 15

O perfeito movimento mecânico,
relogial e lógico que, procurado
entre os lençóis das coisas e do tempo,
deixa que se lhe vejam ora um rosto,
permite que se lhe ouçam ora um cântico
em um compasso enorme e deformado,
seria, se existisse, de mau gosto.

Friday, November 17, 2006

#1

Vi hoje ao passar da contemplação ao absurdo
dois cães que lutavam, não sei se ferozes ou sports men,
não sei se por osso que viesse de fora para dentro
ou se por um músculo que viesse de dentro para fora.

Os cães (com pelagens que não me diziam ou diriam
nada nem se bocas tivessem, infinitas bocas
que me dariam lições de moral carregada de anos
de lutas de rua, se fosse o caso) iam vivendo.

Os panos rasgaram-se de alto a baixo, uma simples
ameaça de volta rompeu o eixo lá do mundo,
a calçada sumiu sob os pés dos passantes, e um rosto
de completa malícia surgiu no acaso das nuvens

Rosnando blasfêmias ao vento, e logo apagou-se.
Os cães prosseguiram na luta; a vantagem oscilante
revezou-se, como é de costume, entre um e o outro;
A calçada firmou-se outra vez, o eixo lá do mundo,
corando, ajeitou-se, refeito. Ninguém percebeu.

Wednesday, October 04, 2006

Os dois segredos.

Não sendo a noite úmida e pesada,
Mas triste em sua sem-gracice urbana
E pronta para novelas e revoluções
Deitei-me aos belos pés de minha amada
Na grama dum jardim inexistente
(Inexistido então além dos meus portões)
E ela sussurrou-me dois segredos.

“Veja” disse, tocando-me os dedos
Finos no lábio tenso e regelado
“... E assim, é tudo”, concluiu e me beijou
O pulso internamente, sobre os medos
E fúrias em minhas veias. Seu lado
Esticou-se, e a noite acabou
Em seu bocejo longo, grave e quente.

Friday, September 22, 2006

Sujeira.

A sujeira dos outros é mais suja que a nossa, nós que tomamos banho todos os dias e nos barbeamos com freqüência, que depilamos as axilas e lavamos atrás das orelhas, nós que sempre cortamos as unhas e usamos polvilho anti-séptico Granado para evitar o chulé, e que damos graças e louvores a todo momento ao sequíssimo e eficientíssimo desodorante. Nós somos os limpos. Os outros são sujos.

Somos limpinhos em nosso trabalho, somos limpinhos em nossos carros, e no ônibus ou no metrô, ao contrário dos outros tão suados. Somos higiênicos com nosso esperma dentro dos preservativos usados, e atingiremos cedo ou tarde o objetivo do sexo embalado sem contato manual, o que dará a todos nós uma certificação ISO qualquer, talvez inédita. Somos cheirosos, nossos corpos recendem a Riccis, Chaneis, Fendis, Phebos, Lempickas, Leites de Rosas, Omos, Pupas, Rabanes, Alfazemas e Moschinos. Somos luminosos, somos vencedores, somos bem embalados. Temos todos um ano de garantia e assistência técnica garantida.

Somos limpinhos em nossas doenças, em nossos hospitais, nas farmácias; nos supermercados, petshops e barzinhos (boteco é sujo). Nossos pulmões são limpos.

Graças, que não somos sujos. Não temos pêlos, não temos pele, não temos sangue, não suamos nunca, nossa saliva se esconde. E a limpeza de nosso corpo é a mesma de nossa alma, nossa alma também é limpa, porque a alma dos outros é suja, enquanto a nossa é, no máximo, empoeirada. Não nos manchou o sangue derramado violentamente, não nos borramos de loucura marrom, nunca levamos um banho de maldade, e sempre que uma mosca de inveja passeia pelas dobras visíveis de nossos braços ou de nossas mangas de paletó, espantamo-la para dentro de nosso bolso sem fundo...

Somos limpos e não precisamos de banho, não precisamos de fogo, não precisamos de lixívia, dispensamos a Água que lava e limpa, porque não somos sujos. Cuide de sua vida, lave sua roupa suja em casa, não meta a colher, tenha seu próprio nariz, não compartilhe seringas, não compartilhe copos, não compartilhe seu lanche, não compartilhe nada, e se você precisar de uma mão procure uma no fim de seu braço.

Somos tão limpos que ofuscamos uns aos outros com nosso fulgor, com a brancura de nossos dentes e unhas, com a brancura de nossa roupa com a brancura de nossos cérebros, ah, se todo branco fosse assim. Caminhamos sobre casacos alheios sem lembrar da lama sobre eles, o que é muito natural para quem caminha sobre casacos alheios; mas também não lembramos de quem pôs aquele casaco. Lavamos nossas mãos sem lembrar de quem encanou a água; e nos enxugamos sem lembrar de quem costurou a toalha. Nossa limpeza não conhece limites, apesar de sermos limitados. Quando acaba em nós o que limpar, quando já não há milímetro quadrado sujo, mal-cheiroso, encardido que seja, estendemos nossa limpeza às casas, aos cachorros, aos carros, às mesas, aos outros. Impomos uma higiene que nos serviu porque não nos abrasou, não nos ardeu, não nos irritou; logo não deve irritar ninguém. Limpe sua língua, limpe suas palavras, dilua seus beijos num mar de outros beijos, mas antes use o spray de própolis.

Somos limpos em nossa falta de pudor, em nossa obscenidade disponível em bancas de jornais, entre púbis depiladas - estamos esperando por você - tudo que você queria saber sobre sexo e não tinha coragem de perguntar - receitas de liquidificador – com licença – quanto é o chiclete? – Fulanos e Sicranas na intimidade – Folhas de São Paulo – Os Pensadores, Santo Agostinho, Dez Reais.

Não somos sujos como os pobres que nos assaltam no sinal, somos mais limpos que os miseráveis que perderam o controle das próprias vidas, nós que nunca roubamos e sempre temos o controle. Navegamos em nossas vidas balançando suavemente, este mar em que vamos não causa enjôo, livres de todo vômito, nunca na lama, jamais na merda, sempre com o nome limpo, carreira brilhante, reputação ilibada, ouvidos que não são penico.

Somos limpos em nossa falta de amor, esse chiclete nojento que nos cola as almas umas às outras. Há quem se una pela carne e pelo sangue, mas essa união carnal e sanguínea sempre nos parecerá pouco mais que sebenta; nós nos unimos pela semelhança, pela medianidade, pela normalidade que nos mantêm perfeitamente inseridos em nós mesmos. Somos nossa própria fôrma, uma fôrma bem untada na qual não ficam resíduos, ainda que untada de maneira limpa, é claro.

Thursday, September 21, 2006

The bees envy me.

Eu teria fechado meu outro blog com esse vídeo,



mas achei melhor usá-lo para abrir este.