Friday, November 17, 2006

#1

Vi hoje ao passar da contemplação ao absurdo
dois cães que lutavam, não sei se ferozes ou sports men,
não sei se por osso que viesse de fora para dentro
ou se por um músculo que viesse de dentro para fora.

Os cães (com pelagens que não me diziam ou diriam
nada nem se bocas tivessem, infinitas bocas
que me dariam lições de moral carregada de anos
de lutas de rua, se fosse o caso) iam vivendo.

Os panos rasgaram-se de alto a baixo, uma simples
ameaça de volta rompeu o eixo lá do mundo,
a calçada sumiu sob os pés dos passantes, e um rosto
de completa malícia surgiu no acaso das nuvens

Rosnando blasfêmias ao vento, e logo apagou-se.
Os cães prosseguiram na luta; a vantagem oscilante
revezou-se, como é de costume, entre um e o outro;
A calçada firmou-se outra vez, o eixo lá do mundo,
corando, ajeitou-se, refeito. Ninguém percebeu.